MORTALIDADE MATERNA NO ESTADO DO CEARÁ: UMA ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL ENTRE 2004 E 2023
Palavras-chave:
Epidemiologia, Mortalidade Materna, Saúde da Mulher, Análise Espacial, Políticas PúblicasResumo
INTRODUÇÃO: A mortalidade materna (MM) constitui um dos principais indicadores da qualidade da assistência em saúde, refletindo desigualdades sociais, regionais e estruturais. Nesse contexto, mesmo diante de avanços nas políticas públicas de atenção materno-infantil, o número de óbitos permanece elevado e heterogêneo, com impacto negativo no alcance das metas nacionais e internacionais de redução da razão de mortalidade materna (RMM). Dessa forma, análises espaço-temporais são fundamentais para identificar padrões, compreender desigualdades e subsidiar estratégias de enfrentamento. OBJETIVO: Analisar o perfil epidemiológico da mortalidade materna entre 2004 e 2023, descrevendo características sociodemográficas, tendências temporais e padrões espaciais, identificando áreas de maior risco. METODOLOGIA: Estudo ecológico misto, de caráter descritivo e analítico, baseado em dados secundários provenientes de sistemas públicos de informação em saúde (DATASUS). Foram incluídos óbitos maternos de mulheres com idades entre 10 e 49 anos, excetuando-se os casos classificados como morte materna tardia. A investigação ocorreu em três etapas: análise descritiva e temporal da RMM; análise espacial bruta e suavizada pelo método bayesiano; e avaliação da autocorrelação espacial utilizando o Índice de Moran para detecção de clusters e outliers. RESULTADOS E DISCUSSÃO: No período analisado, registraram-se 1.746 óbitos maternos, dos quais 63% foram atribuídos a causas obstétricas diretas. O perfil predominante incluiu mulheres pardas (70,33%), solteiras (51,43%), com escolaridade entre 8 e 11 anos (28,69%) e idade de 25 a 34 anos (41,87%). A maioria dos óbitos ocorreu no puerpério precoce (50,17%) e em ambiente hospitalar (87,97%). A RMM apresentou média de 68,1 por 100.000 nascidos vivos, demonstrando padrão de estagnação, com apenas oito municípios abaixo da meta nacional e nove com índices extremos. A análise espacial evidenciou heterogeneidade, destacando taxas elevadas nas regiões do Sertão Central e Cariri. O Índice de Moran (0,1439; p=0,003) confirmou autocorrelação espacial significativa, revelando aglomerados de risco. Esses achados indicam predomínio de causas evitáveis e evidenciam a persistência de desigualdades estruturais, acentuadas pelo impacto da pandemia de COVID-19. CONCLUSÕES: A mortalidade materna manteve-se elevada e desigual ao longo de duas décadas, refletindo falhas na cobertura e qualidade da assistência obstétrica. A predominância de causas diretas e a concentração de óbitos em áreas vulneráveis reforçam a necessidade de políticas públicas regionalizadas, investimentos na qualificação da assistência e fortalecimento do monitoramento epidemiológico para redução de óbitos maternos evitáveis.
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