O RACISMO ESTRUTURAL COMO DETERMINANTE DE DESFECHOS OBSTÉTRICOS DESFAVORÁVEIS EM MULHERES NEGRAS NO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
Palavras-chave:
Racismo, Saúde Materna, Violência ObstétricaResumo
INTRODUÇÃO: Os indicadores de saúde materna no Brasil revelam uma profunda e persistente iniquidade racial, com mulheres negras apresentando os piores desfechos. Esta disparidade não pode ser explicada apenas por fatores socioeconômicos, apontando para o racismo estrutural como um determinante central. Nesse contexto, a síntese do conhecimento produzido, abrangendo dados estatísticos e experiências vividas, é essencial para compreender a complexidade do fenômeno e fundamentar a urgência de transformações na formação e na prática médica. OBJETIVO: Sintetizar e analisar o conhecimento científico sobre como o racismo estrutural se manifesta e impacta os desfechos obstétricos em mulheres negras no Brasil. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, delineada para sintetizar estudos com diversas abordagens metodológicas. As buscas foram realizadas nas bases de dados LILACS, SciELO e PubMed, com a seguinte estratégia: "Racism" OR "Health Inequity" OR "Ethnic Groups" AND "Maternal Health" OR "Prenatal Care" OR "Obstetric Violence" AND Brazil. Foram incluídos estudos quantitativos e qualitativos, publicados nos últimos 15 anos, que abordaram a intersecção entre raça, racismo e saúde materna no Brasil. Foram excluídos editoriais e artigos de opinião. A extração dos dados foi guiada por um instrumento e a análise realizada por meio da análise de conteúdo temática. RESULTADOS e DISCUSSÃO: A busca inicial recuperou 78 estudos, dos quais 10 foram incluídos na síntese final. A análise revelou duas categorias centrais. A primeira, "Iniquidades Quantificáveis", consolidou dados estatísticos que demonstram que mulheres negras têm maior Razão de Mortalidade Materna, acesso mais tardio ao pré-natal e maiores taxas de morbidades, como a pré-eclâmpsia. A segunda categoria, "Manifestações do Racismo no Cuidado", emergiu dos estudos qualitativos, trazendo à tona as experiências de mulheres negras com narrativas de invalidação da dor, comunicação hostil, violência obstétrica e solidão durante o parto. A discussão, alinhada à compreensão de como "as iniquidades e violações dos direitos humanos afetam diretamente a saúde", articula essas categorias, demonstrando que os dados estatísticos são o resultado de práticas discriminatórias vivenciadas no cotidiano dos serviços de saúde. CONCLUSÕES: As evidências consolidadas nesta revisão atestam que o racismo estrutural é um determinante fundamental dos piores desfechos obstétricos para mulheres negras no Brasil, manifestando-se tanto em indicadores de saúde desiguais quanto em experiências de cuidado violentas. O enfrentamento desta iniquidade é um imperativo de saúde pública e de direitos humanos, que exige políticas antirracistas efetivas e uma profunda reforma na educação médica, capacitando futuros profissionais para promover a "equidade de acesso" e a justiça social em sua prática clínica.
Downloads
Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Relatório: Oficina de Morte Materna de Mulheres Negras no Contexto do SUS [recurso eletrônico]. Brasília, DF, 2023. Disponível em: https://aps.saude.gov.br/ape/direito-saude-da-populacao-negra/21595-relatorio-da-oficina-morte-materna-de-mulheres-negras-no-contexto-do-sus . Acesso em: 21 set. 2025.
2. LIMA, K. D. et al. Disparidades raciais: uma análise da violência obstétrica em mulheres negras. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 26, n. 12, p. 4909-4918, 2021. DOI: 10.1590/1413-8123202126124909.
3. LESSA, M. S. A. Pré-natal da mulher brasileira: desigualdades raciais e qualidade da assistência. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, DF, v. 75, n. 5, e20210818, 2022. DOI: 10.1590/0034-7167-2022-0818.
4. OLIVEIRA, B. M. C.; KUBIAK, F. Racismo institucional e a saúde da mulher negra: uma análise da produção científica brasileira. Saúde e Debate, Rio de Janeiro, v. 43, n. 121, p. 147-160, 2019. DOI: 10.1590/01031104201912113.
5. SILVA, J. M. Violência obstétrica: racismo estrutural e patriarcalismo como fatores que invisibilizam o sofrimento de mulheres negras. Revista de Enfermagem Referência, v. 5, n. 10, p. 11-20, 2022. DOI: 10.12707/RV22025.
6. SILVA, E. K. A. et al. Racismo obstétrico vivenciado por mulheres negras: uma revisão integrativa da literatura. Research, Society and Development, [S.l.], v. 11, n. 1, e40011124930, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i1.24930.
7. GUIMARÃES, J. C. N. et al. Obstetric racism suffered by black women in prenatal and childbirth care: a scoping review. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 46, e20240442, 2025. DOI: 10.1590/1983-1447-2025-442.
8. SILVA, M. H. da; COSTA, L. S. Óbitos maternos de mulheres negras no Brasil: um estudo descritivo. Texto & Contexto - Enfermagem, Florianópolis, v. 33, e20230489, 2024. DOI: 10.1590/1980-265X202433e20230489.
9. AMORIM, M. P. Políticas públicas antirracistas, racismo estrutural e saúde da mulher negra. São Paulo: Editora Dialética, 2022.
SARAIVA, V. C. S. Notas sobre o racismo e a violência obstétrica contra mulheres negras. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 33, n. 1, e330111, 2023. DOI: 10.1590/1809-43412023v33n1p330111.
Publicado
Edição
Seção
Categorias
Licença
Copyright (c) 2025 Caio Victor Fernandes de Oliveira, Ingrid Emmanuelly Rodrigues Sousa, Nilton Jorge Gomes de Figueiredo Filho, Heverly Dayane da Silva Santos, Mateus Dantas Monteiro Formiga, Lorena Sheila Alves de Oliveira, Mariana Melo de Paula, Maria Clara Batista de Oliveira Medeiros (Autor)

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
As licenças de usuário definem como os leitores e o público em geral podem usar o artigo sem precisar de outras permissões. As licenças públicas do Creative Commons fornecem um conjunto padrão de termos e condições que os criadores e outros detentores de direitos podem usar para compartilhar obras originais de autoria e outros materiais sujeitos a copyright e alguns outros direitos especificados na licença pública disponível em https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR. Ao usar a 4.0 International Public License, a IFMSA Brazil concede ao público permissão para usar o material publicado sob os termos e condições especificados acordados pela revista. Ao exercer os direitos licenciados, os autores aceitam e concordam em obedecer aos termos e condições da Licença Pública Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.