HANSENÍASE: TENDÊNCIA TEMPORAL E IMPACTOS DA PANDEMIA NO MATO GROSSO NOS ANOS DE 2015 A 2024
Palavras-chave:
Hanseníase, Epidemiologia, Doenças NegligenciadasResumo
INTRODUÇÃO: A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica, classificada pela OMS como Doença Tropical Negligenciada, causada por Mycobacterium leprae e Mycobacterium lepromatosis, que afeta pele e nervos periféricos. O Brasil apresenta alta endemicidade, representando a maioria dos casos da América Latina, e o estado de Mato Grosso figura entre os de maior número de registros, o que reforça a importância de análises locais. OBJETIVO: Analisar a incidência e a tendência temporal da hanseníase em Mato Grosso, com foco no impacto da pandemia de COVID-19. METODOLOGIA: Estudo ecológico de série temporal (2015–2024) utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram avaliados ano de diagnóstico, número de casos, população e taxa de incidência (por 100.000 habitantes) no Centro-Oeste e média nacional. A análise empregou Séries Temporais Interrompidas, considerando 2020 como ponto de interrupção, ajustada pelo modelo de Prais-Winsten. RESULTADOS e DISCUSSÃO: No período analisado, Mato Grosso notificou 45.135 casos de hanseníase, correspondendo a 67,2% dos registros do Centro-Oeste. O pico ocorreu em 2023, com 6.255 casos e o menor número em 2021, com 2.887. A taxa média de incidência foi de 122,8 por 100.000 habitantes, variando de 78,8 (2021) a 167,1 (2018), sempre superior às médias nacional (14,9) e regional (44,2). A análise de regressão de Prais-Winsten, que corrigiu a autocorrelação de primeira ordem (ρ = -0,5472; R² ajustado = 0,877), mostrou que entre 2015 e 2019 a incidência de hanseníase em Mato Grosso cresceu consistentemente (18,78 pontos/ano; p=0,007), seguida de queda abrupta em 2020 (-131,29 pontos; p<0,001) e retomada do crescimento nos anos subsequentes, com leve redução em 2024. Esse padrão evidencia a carga desproporcionalmente elevada da doença em relação às médias regional e nacional e sugere que a pandemia impactou mais a detecção e notificação dos casos do que a dinâmica de transmissão. Como limitações, destacam-se a curta série temporal, que reduz a potência estatística das análises, e a possibilidade de subnotificação, especialmente no contexto pandêmico, o que pode ter influenciado a interpretação das tendências observadas. CONCLUSÕES: O presente estudo pode contribuir para a literatura ao fornecer dados atualizados até 2024 e aplica metodologia robusta para correção de autocorrelação, contribuindo para a compreensão do impacto da pandemia sobre os registros de hanseníase em Mato Grosso. Os achados reforçam a necessidade de fortalecer a vigilância epidemiológica e a detecção precoce, sobretudo em cenários de crise sanitária. Recomenda-se a realização de estudos futuros com séries temporais mais longas, a fim de confirmar os resultados apresentados e avaliar a sustentabilidade, em longo prazo, das mudanças observadas nas taxas de incidência.
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Referências
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