DISPARIDADE NO PERFIL DIAGNÓSTICO E SUA CORRELAÇÃO COM A INCIDÊNCIA DE HANSENÍASE: O CASO DE MATO GROSSO NO CONTEXTO NACIONAL
Palavras-chave:
Hanseníase, Epidemiologia, Disparidades em SaúdeResumo
INTRODUÇÃO: A hanseníase é uma doença de alta endemicidade no Brasil, com o estado de Mato Grosso figurando entre os de maior número de registros. É causada principalmente pelo Mycobacterium leprae e, mais recentemente, também associada ao Mycobacterium lepromatosis. Clinicamente, a doença pode se apresentar sob duas formas principais: a paucibacilar, caracterizada por menor carga bacteriana e, portanto, menor risco de transmissão, e a multibacilar, marcada por alta carga infecciosa, maior potencial de disseminação e responsável pela manutenção da cadeia de transmissão na comunidade. OBJETIVO: Investigar se a disparidade observada em Mato Grosso reflete uma tendência nacional, testando a correlação estatística entre a porcentagem de casos paucibacilares e a taxa de incidência de hanseníase entre as unidades federativas do Brasil. METODOLOGIA: Estudo ecológico de corte transversal, abrangendo o período de 2015 a 2024, utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referentes às 27 unidades federativas. A variável independente foi a porcentagem de casos classificados como paucibacilares no diagnóstico, e a variável dependente foi a taxa de incidência por 10.000 habitantes. A análise empregou o coeficiente de Correlação de Pearson (r). RESULTADOS e DISCUSSÃO: A análise confirmou a hipótese com significância estatística, revelando uma correlação negativa e moderada entre as variáveis (r = -0,432; p = 0,024). O coeficiente de determinação (R²) de 0,187 indica que 18,7% da variação na incidência entre os estados pode ser explicada pelo perfil de diagnóstico. A situação de Mato Grosso é notável, pois a proporção de casos diagnosticados como paucibacilar foi de apenas 6,09%, valor inferior à metade do registrado no segundo pior estado (12,16%) e correspondente a menos de um terço da média nacional (19,76%). Além disso, enquanto a taxa média de incidência no Brasil foi de 14,48, Mato Grosso alcançou 117,69, configurando um dos cenários mais críticos do país. CONCLUSÕES: A baixa proporção de casos paucibacilares está estatisticamente associada a uma maior incidência de hanseníase no Brasil. O cenário de Mato Grosso, com uma proporção de casos paucibacilares significativamente inferior à média nacional e aos demais estados, configura um alerta relevante. Isso indica que o estado apresenta uma maior proporção de casos multibacilares, contribuindo para a hiperendemicidade da doença devido à maior transmissibilidade desses pacientes. Esse contexto reforça a necessidade urgente de fortalecer as estratégias de vigilância e a busca ativa de casos, especialmente em estados com perfis epidemiológicos tão discrepantes. Além disso, evidencia a importância de estudos adicionais para compreender as razões por trás dessas diferenças proporcionais e explicar a elevada incidência observada em Mato Grosso.
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Referências
1. BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN. Brasília: Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sinan. Acesso em: 20 set. 2025.
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