A RELEVÂNCIA DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE CONTÍNUA NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Palavras-chave:
Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua, Transtorno Depressivo Resistente a Tratamento, Qualidade de VidaResumo
INTRODUÇÃO: A depressão maior é um transtorno mental comum e debilitante, caracterizado por humor persistentemente deprimido, perda de interesse ou prazer, alterações no sono e apetite, fadiga e dificuldade de concentração. Ela afeta milhões de pessoas em todo o mundo e está associada a redução da qualidade de vida, prejuízo funcional e aumento do risco de suicídio. Apesar de tratamentos convencionais, como antidepressivos e psicoterapia, cerca de um terço dos pacientes não alcança remissão completa, o que destaca a necessidade de alternativas terapêuticas. A estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC) é uma técnica não invasiva de neuromodulação que aplica corrente elétrica de baixa intensidade no cérebro, visando modular a excitabilidade cortical e melhorar sintomas depressivos. Estudos recentes mostram resultados promissores, embora heterogêneos, e investigam também a aplicação domiciliar da técnica, que se mostra segura e bem tolerada. Esta revisão analisa a eficácia e segurança da ETCC no tratamento da depressão maior, com base em ensaios clínicos randomizados recentes. OBJETIVO: Analisar as evidências disponíveis sobre a eficácia e a segurança da ETCC no tratamento da depressão por meio de revisão da literatura. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão de literatura realizada na base de dados PubMed. Foram utilizados descritores em português e inglês relacionados à depressão e à estimulação transcraniana por corrente contínua, combinados por operadores booleanos. A busca resultou em 19 artigos, dos quais 12 atenderam aos critérios de inclusão e foram analisados. Foram incluídos artigos publicados nos últimos cinco anos, ensaios clínicos randomizados, que analisassem a ETCC isolada ou como adjuvante ao tratamento farmacológico ou à terapia cognitivo-comportamental, com avaliação da depressão por meio de escala padronizada e texto completo disponível gratuitamente. As variáveis analisadas foram: presença de resultados significativos, tempo de estudo e uso de tratamento adjuvante. RESULTADOS e DISCUSSÃO: Dos 12 artigos incluídos, a maioria avaliou a ETCC como intervenção isolada ou como adjuvante a tratamentos farmacológicos e à terapia cognitivo-comportamental, com duração de protocolos variando de duas semanas a dez semanas. A ETCC demonstrou melhora significativa nos sintomas depressivos em diversos estudos, principalmente quando aplicada de forma prolongada, personalizada ou em combinação com outros tratamentos, evidenciando potencial efeito aditivo. Entretanto, alguns ensaios não encontraram diferença significativa em relação ao grupo controle, indicando heterogeneidade nos resultados possivelmente relacionada à variação nos parâmetros de estimulação, número de sessões, intensidade da corrente e perfil dos participantes. Estudos com ETCC domiciliar mostraram segurança e boa aceitabilidade, mas resultados mistos sugerem que a supervisão estruturada pode influenciar a adesão e eficácia. Além da melhora global dos sintomas depressivos, algumas pesquisas indicaram benefícios específicos sobre anedonia e funções cognitivas, especialmente em populações mais idosas ou com depressão vascular. No geral, os achados reforçam que a ETCC é segura, bem tolerada e apresenta potencial terapêutico. CONCLUSÕES: A ETCC apresenta evidências promissoras para a redução dos sintomas depressivos, especialmente em protocolos prolongados e de alta definição, sendo uma técnica segura e bem tolerada. No entanto, a heterogeneidade metodológica e a variabilidade de resultados indicam a necessidade de ensaios clínicos mais robustos, padronizados e com seguimento de longo prazo, a fim de consolidar sua eficácia e definir o perfil de pacientes que mais se beneficiam dessa abordagem.
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Referências
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