CONTRIBUIÇÕES DOS PROGRAMAS DE INTERCÂMBIO PARA A AQUISIÇÃO DE COMPETÊNCIA CULTURAL E VISÃO EM SAÚDE GLOBAL NA FORMAÇÃO MÉDICA: UMA REVISÃO NARRATIVA
Palavras-chave:
Educação de Graduação em Medicina, Intercâmbio Educacional Internacional, Competência CulturalResumo
INTRODUÇÃO: Em um mundo interconectado, os desafios da saúde transcendem fronteiras, exigindo dos futuros médicos uma compreensão ampla dos determinantes de saúde em diferentes contextos, conceito abarcado pela Saúde Global. Frequentemente, a formação médica tradicional é focada em realidades locais, podendo limitar a preparação do estudante para a diversidade cultural e sistêmica da prática clínica. Nesse sentido, a análise da literatura sobre o impacto da mobilidade estudantil é essencial para compreender como essa vivência fortalece a formação e prepara profissionais para os desafios do século XXI. OBJETIVO: Discutir as contribuições dos programas de intercâmbio acadêmico para o desenvolvimento de competência cultural e de uma perspectiva em Saúde Global na formação de estudantes de medicina. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, com foco na análise crítica e na síntese de estudos sobre o impacto da mobilidade estudantil internacional na educação médica. As buscas foram realizadas de forma não-sistemática nas bases de dados PubMed, SciELO e Google Scholar, com a seguinte estratégia: "International Exchange" OR "Medical Students" OR "Global Health Education" AND "Cultural Competency" OR "Cross-Cultural Comparison". Foram selecionados artigos que abordam o papel dos intercâmbios na formação médica, seus benefícios pedagógicos e os desafios associados. RESULTADOS e DISCUSSÃO: A análise da literatura permitiu identificar três eixos de contribuição principais. O primeiro é o Desenvolvimento da Competência Cultural, onde a imersão em um novo ambiente promove a "escuta ativa" e a adaptação a diferentes valores e práticas de saúde, habilidades cruciais para o cuidado de populações diversas. O segundo eixo é a Compreensão de Sistemas de Saúde Comparados, pois a vivência em outro sistema permite ao estudante analisar criticamente o modelo brasileiro, identificando suas forças e fraquezas. O terceiro é a Formação Prática em Saúde Global, ao expor o discente a realidades epidemiológicas distintas e à atuação em cenários com recursos variados. A discussão, pautada no "potencial transformador" dessas experiências, ressalta que, para serem efetivos, os intercâmbios devem ser bem estruturados, com supervisão adequada e preparo prévio, evitando o risco de "turismo médico" e garantindo uma "troca de saberes" ética e respeitosa com a comunidade anfitriã. CONCLUSÕES: A literatura apoia fortemente que os programas de intercâmbio, quando eticamente orientados, são ferramentas pedagógicas de alto impacto. Eles são fundamentais para o desenvolvimento de competência cultural e para a construção de uma visão crítica em Saúde Global, formando médicos mais preparados para atuar em um mundo diverso e globalizado e fortalecendo uma formação "socialmente comprometida".
Downloads
Referências
1. ALMEIDA, C. A experiência da Fiocruz na formação de profissionais em saúde global e diplomacia da saúde: base conceitual, estrutura curricular e primeiros resultados. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, v. 4, n. 1, p. 148-164, 2010.
2. BARBOSA, S. P. et al. Sistemas nacionais de saúde, legislação e seus determinantes sociais: um estudo comparativo entre Brasil, Espanha, Portugal e Itália. Cadernos de Saúde Pública, v. 40, n. 6, e00169423, 2024.
3. BOTTI, S. H. O.; REGO, S. Preceptor, supervisor, tutor e mentor: quais são seus papéis? Revista Brasileira de Educação Médica, v. 32, n. 3, p. 363-373, 2008.
4. DANELLE, V. A. et al. Educação em saúde global: contribuições na formação médica e desafios para a equidade. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 35, e350302, 2025.
5. DE SOUZA-LOPES, J.; DA SILVA MACHADO, G.; MARTINS-BORGES, L. "Competência cultural": revisão de literatura sobre atendimento oferecido a imigrantes. Revista CES Psicología, v. 17, n. 2, p. 1-16, 2024.
6. FERREIRA, I. G.; CARREIRA, L. B.; BOTELHO, N. M. Mobilidade internacional na graduação em medicina: relato de experiência. ABCS Health Sciences, v. 42, n. 2, p. 115-119, 2017.
7. FOLEY, B. M. et al. Patient care without borders: a systematic review of medical and surgical tourism. Journal of Travel Medicine, v. 26, n. 6, taz049, 2019.
8. FORTES, P. A. C.; RIBEIRO, H. Saúde Global em tempos de globalização. Saúde e Sociedade, v. 23, n. 2, p. 366-375, 2014.
9. GOMES, M. S.; CHIRELLI, M. Q.; TAKEDA, E. Unidade Educacional Eletiva: Experiência de Intercâmbio Internacional na Graduação em Medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 43, n. 3, p. 196-203, 2019.
10. KOPLAN, J. P. et al. Towards a common definition of global health. The Lancet, v. 373, n. 9679, p. 1993-1995, 2009.
11. MEWS, C. et al. Cultural Competence and Global Health: Perspectives for Medical Education. GMS Journal for Medical Education, v. 35, n. 3, Doc28, 2018.
12. SANTOS, J. C.; MELO, W. Estudo de saúde comparada: os modelos de atenção primária em saúde no Brasil, Canadá e Cuba. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, v. 11, n. 1, p. 86-103, 2018.
13. SCHOUTEN, B. C.; MEEUWSEN, L. Cultural differences in medical communication: a review of the literature. Patient Education and Counseling, v. 64, n. 1-3, p. 21-34, 2006.
14. SILVA, R. A.; SILVA FILHO, C. R. Intercâmbio internacional na era COVID-19: por que Portugal? Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, v. 16, n. 43, p. 2723, 2021.
15. SOLER-GONZÁLEZ, J.; RODRÍGUEZ-ROSICH, A.; MARSAL-MORA, J. R. Competencia del estudiante de medicina para respetar las creencias y la cultura del paciente. FEM: Revista de la Fundación Educación Médica, v. 17, n. 2, p. 85-90, 2014.
Publicado
Edição
Seção
Categorias
Licença
Copyright (c) 2025 Caio Victor Fernandes de Oliveira, Nilton Jorge Gomes de Figueiredo Filho, Heverly Dayane da Silva Santos, Mateus Dantas Monteiro Formiga, Lorena Sheila Alves de Oliveira, Mariana Melo de Paula, Valquíria da Silva Raminelli, Maria Clara Batista de Oliveira Medeiros (Autor)

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
As licenças de usuário definem como os leitores e o público em geral podem usar o artigo sem precisar de outras permissões. As licenças públicas do Creative Commons fornecem um conjunto padrão de termos e condições que os criadores e outros detentores de direitos podem usar para compartilhar obras originais de autoria e outros materiais sujeitos a copyright e alguns outros direitos especificados na licença pública disponível em https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt_BR. Ao usar a 4.0 International Public License, a IFMSA Brazil concede ao público permissão para usar o material publicado sob os termos e condições especificados acordados pela revista. Ao exercer os direitos licenciados, os autores aceitam e concordam em obedecer aos termos e condições da Licença Pública Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.