EFEITOS DELETÉRIOS DO USO DE AGONISTAS DE GLP-1 NA CIRURGIA: UMA REVISÃO NARRATIVA
Palavras-chave:
Gastroparesia, Anestesia, Procedimentos Cirúrgicos OperatóriosResumo
INTRODUÇÃO: O uso de agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1 RAs) cresce rapidamente como tratamento para diabetes tipo 2 e obesidade. Consequentemente, cresce o número de pacientes que utilizam esses fármacos e são submetidos a cirurgias, exigindo maior atenção ao manejo perioperatório. Evidências indicam que os GLP-1 RAs retardam o esvaziamento gástrico, elevando o conteúdo gástrico residual (CGR), mesmo após jejum adequado conforme as diretrizes atuais, e têm sido associados a casos de aspiração pulmonar durante a anestesia. Apesar dos riscos, inexistem diretrizes que orientem o manejo anestésico frente a essas consequências. OBJETIVO: Evidenciar os efeitos da gastroparesia induzida por agonistas de GLP-1 e discutir a necessidade de novas diretrizes pré-operatórias. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão narrativa de literatura realizada na base PubMed, com delimitação manual temporal entre 2021 e 2025 por ferramenta da plataforma e seleção de apenas estudos em inglês disponíveis gratuitamente. Utilizaram-se os descritores: “GLP-1 receptor agonists” OR “Glucagon-Like Peptide 1 Receptor Agonists” AND (“Gastroparesis” OR “Surgical Procedures” OR “Anesthesia” OR “Sedation” OR “Perioperative”). Foram identificados 102 artigos, dos quais 8 atenderam aos critérios de inclusão. Excluíram-se estudos restritos a procedimentos cirúrgicos específicos, sem enfoque na relação entre GLP-1 RA e o período perioperatório e que envolvem outras áreas da saúde. A triagem ocorreu primeiramente pela leitura de títulos, depois dos resumos e, por fim, dos textos completos. Os artigos selecionados relacionaram o uso desses fármacos com a gastroparesia e o risco de broncoaspiração e potenciais interações com fármacos anestésicos. A análise foi descritiva e comparativa, priorizando discussões recentes, consensos e lacunas. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os estudos analisados apontam associação entre GLP-1 RA e um maior risco de CGR. Em uma das investigações esse aumento foi de 56% dos usuários de GLP-1 RAs, contra 19% dos não usuários. Além disso, relatos de caso identificaram resíduo sólido por ultrassonografia, fator decisivo para regurgitação e aspiração, complicação rara, porém grave, e principal causa de mortalidade relacionada à anestesia. Evidências indicam que, mesmo após suspensão de até sete dias, o resíduo persiste pela longa meia-vida dos fármacos, dificultando a definição de protocolos seguros de descontinuação ou jejum, sem comprometer seus benefícios terapêuticos. Nesse sentido, faltam evidências para o manejo da interrupção da medicação, e a manutenção da regulamentação atual representa risco à segurança perioperatória desses pacientes. CONCLUSÃO: Torna-se urgente elaborar diretrizes que orientem a abordagem dos anestesistas sobre o período perioperatório de pacientes em uso de GLP-1 RA. O desenvolvimento de novos estudos que considerem o risco de retenção do CGR é essencial para que se evite casos fatais de aspiração.
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Referências
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