CENÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO BRASILEIRO DE VIOLÊNCIA SEXUAL DE 2018 A 2022: UM ESTUDO ECOLÓGICO
DOI:
https://doi.org/10.53843/bms.v10i14.921Palavras-chave:
Epidemiologia, Notificação de Abuso, Saúde Holística, Subnotificação, Violência SexualResumo
Introdução: Violência sexual, ato em que um indivíduo utiliza meios de coerção, como força física, abuso psicológico ou posição de poder, para obter satisfação sexual ou lucros materiais, manifesta-se de diversas formas e impacta negativamente a vida das vítimas, configurando um grave problema de saúde pública que impede a efetivação dos direitos humanos. Diante disso, o objetivo deste estudo foi analisar os casos de violência sexual no Brasil (2018-2022). Métodos: Estudo ecológico realizado mediante o Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Foram incluídos frequência e prevalência dos casos de violência sexual na população brasileira de 2018-2022. Variáveis analisadas: ano, sexo, faixa etária, cor/raça e regiões brasileiras. Resultados e discussão: No período analisado, foram registrados 220.998 casos de violência sexual, com aumento entre 2018 e 2019 e subsequente queda de 13,92% em 2020. A região Norte apresentou a maior prevalência de casos (taxa por 100 mil habitantes), embora tenha registrado a quarta maior frequência. Já o Nordeste, apesar da menor prevalência, destacou-se entre as regiões com maior número de casos. Além disso, observou-se um aumento na incidência de violência sexual ao longo do desenvolvimento infantil, atingindo o pico na faixa etária de 10 a 19 anos. A partir dos 15 anos, os casos permaneceram em níveis elevados, especialmente entre 20 e 59 anos. Destaca-se ainda a maior prevalência de casos em indivíduos do sexo feminino e da cor/raça parda. Conclusão: O estudo indicou aumento recente e considerável dos casos de violência sexual, representando desafios emergentes para saúde pública no país, principalmente no sexo feminino de 10-14 anos e pardas. Apesar do estudo apresentar limitações por proceder de uma base de dados secundária passível de subnotificações e falhas nos registros, é essencial melhorar o diagnóstico e o acesso a cuidados, além de políticas públicas eficazes para controle e erradicação desse problema.
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