RELAÇÃO ENTRE VACINAÇÃO CONTRA A INFLUENZA E DESFECHOS CARDIOVASCULARES NO BRASIL ENTRE 2009 e 2022: UM ESTUDO ECOLÓGICO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.53843/bms.v10i14.1018

Palavras-chave:

Vacinação, Influenza Humana, Doenças Cardiovasculares, Estudos Ecológicos

Resumo

Introdução: A infecção por influenza está associada ao aumento de eventos cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio (IAM), por mecanismos inflamatórios. No Brasil, a vacinação contra influenza é ofertada universalmente, mas seu impacto populacional em desfechos cardiovasculares ainda é pouco explorado. Este estudo buscou avaliar a associação entre cobertura vacinal e indicadores hospitalares relacionados a IAM e revascularização nas cinco macrorregiões brasileiras. Métodos: Estudo ecológico com dados secundários do DATASUS (SIH e PNI), de 2009 a 2022. Foram avaliadas a cobertura vacinal (doses aplicadas por 100 mil habitantes), taxas de internação, mortalidade intrahospitalar, tempo médio de internação e custo médio por internação para IAM e revascularização. Utilizou-se o software Google Colab para análises com modelos beta e lineares, ajustados por região, tempo (ano quadrático) e taxa de internação. Resultados: Não houve associação significativa entre cobertura vacinal e mortalidade por IAM (β = 4,8×10⁻⁶; p = 0,613; IC95%: -1,4×10⁻⁵, 2,4×10⁻⁵) nem por revascularização (β = 9,5×10⁻⁶; p = 0,576; IC95%: -2,4×10⁻⁵, 4,3×10⁻⁵). Tampouco se observou associação com tempo médio de internação ou taxas de internação. No entanto, houve redução significativa da mortalidade por IAM ao longo do tempo (β = -0,0325; IC95%: -0,044, -0,021; p < 0,001), possivelmente atribuível a avanços clínicos. Foram identificadas diferenças entre regiões, como variações na média de internações e mortalidade, apontando disparidades geográficas. Discussão: Os achados contrastam com ensaios clínicos que sugerem efeito protetor da vacinação contra eventos cardiovasculares, indicando que fatores contextuais e estruturais, como desigualdades regionais e qualidade da assistência, podem interferir nos resultados em nível populacional. Além disso, a ausência de associação pode refletir limitações inerentes ao desenho ecológico, incluindo o viés ecológico e a agregação dos dados, além de possíveis falhas de notificação nos sistemas utilizados. Conclusão: Apesar de não se observar efeito direto da cobertura vacinal sobre os desfechos analisados, os resultados apontam para a importância de políticas públicas integradas que considerem as desigualdades regionais. Recomenda-se o desenvolvimento de estudos longitudinais com dados individuais, a fim de melhor estimar os efeitos da vacinação e subsidiar campanhas mais eficazes em saúde pública cardiovascular.

Referências

1. World Health Organization. Influenza (Seasonal). Geneva: WHO; 2022. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/influenza-(seasonal).

2. Kwong JC, Schwartz KL, Campitelli MA, et al. Acute Myocardial Infarction after Laboratory-Confirmed Influenza Infection. N Engl J Med. 2018;378(4):345-353.

3. Ribeiro ALP, Duncan BB, Brant LCC, et al. Cardiovascular Health in Brazil: Trends and Perspectives. Circulation. 2016;133(4):422-433.

4. Udell JA, Zawi R, Bhatt DL, et al. Association Between Influenza Vaccination and Cardiovascular Outcomes in High-Risk Patients: A Meta-Analysis. JAMA. 2013;310(16):1711-1720.

5. Donalisio MR, Freitas ARR, Zöllner MSAA. Cobertura vacinal contra influenza e mortalidade por doenças respiratórias em idosos no Brasil. Cad Saúde Pública. 2017;33(5):e00111416 .

6. Ministério da Saúde (BR). Boletim Epidemiológico do Programa Nacional de Imunizações. Brasília: Ministério da Saúde; 2022.

7. Barnes M, Sax PE, Bloom DE. The Economic Burden of Influenza-Associated Hospitalizations in the United States. Health Aff (Millwood). 2020;39(2):284-291.

8. Omidi F, Zangiabadian M, Shahidi Bonjar AH, et al. Influenza vaccination and major cardiovascular risk: a systematic review and meta-analysis of clinical trials studies. Sci Rep. 2023;13:20235.

9. MacIntyre CR, Mahimbo A, Moa AM, et al. Influenza Vaccine as a Coronary Intervention for Prevention of Myocardial Infarction. Heart. 2016;102(24):1953-1956.

10. Warren-Gash C, Blackburn R, Whitaker H, et al. Laboratory-Confirmed Respiratory Infections as Triggers for Acute Myocardial Infarction and Stroke: A Self-Controlled Case Series Analysis of National Linked Datasets from Scotland. Eur Respir J. 2018;51(3):1701794.

11. Lima-Costa MF, Mambrini JVM, Andrade FB, et al. Desigualdades socioeconômicas na cobertura da vacinação contra influenza em idosos no Brasil. Rev Saúde Pública. 2019;53:34.

12. Ribeiro ALP, Duncan BB, Brant LCC, et al. Trends in Cardiovascular Disease Mortality in Brazil: 1996 to 2016. Arq Bras Cardiol. 2019;113(5):997-1004.

13. Gaglia MA, Torguson R, Waksman R. Cost-effectiveness of Intravascular Ultrasound in Percutaneous Coronary Intervention. Cardiovasc Revasc Med. 2020;21(1):146-149.

14. Nichol KL, Nordin JD, Nelson DB, et al. Effectiveness of Influenza Vaccine in the Community-Dwelling Elderly. N Engl J Med. 2007;357(14):1373-1381.

15. Osterholm MT, Kelley NS, Sommer A, et al. Efficacy and Effectiveness of Influenza Vaccines: A Systematic Review and Meta-Analysis. Lancet Infect Dis. 2012;12(1):36-44.

Downloads

Publicado

10.09.2025

Como Citar

1.
RELAÇÃO ENTRE VACINAÇÃO CONTRA A INFLUENZA E DESFECHOS CARDIOVASCULARES NO BRASIL ENTRE 2009 e 2022: UM ESTUDO ECOLÓGICO. BMS [Internet]. 10º de setembro de 2025 [citado 16º de setembro de 2025];10(14). Disponível em: https://revistas.ifmsabrazil.org/bms/article/view/1018